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História de Iperó

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Por Sandro Canatelli

A cidade de Iperó tem sua origem na expansão de uma atividade que provocou profundas mudanças no Brasil a partir da segunda metade do século XIX: A Ferrovia.

Se voltarmos ainda mais no tempo, encontraremos outros grupos étnicos e movimentações econômicas na nossa região. Nestas empreitadas, podemos citar os Sardinhas (pai e filho), que iniciaram os trabalhos de mineração no morro de Araçoiaba, ainda no século XVI.

Descoberto minério de ferro, construíram os primeiros fornos de fundição da América, atividade que iniciaria uma saga de muitos anos, em períodos esparsos, culminando numa das mais importantes experiências siderúrgicas/industriais do Brasil, a Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema. Hoje, ainda são marcantes as instalações que constituem importante sítio histórico e arqueológico na Fazenda Ipanema.

Outro manifestação cultural importante foi Movimento Tropeiro em nossa região. O Tropeirismo, um dos mais importantes ciclos econômicos do país, também esteve presente ao nosso redor. Sorocaba, o principal centro tropeiro da região Sudeste, e um dos maiores do Brasil, abrigando a famosa Feira de Animais, tinha nos seus arredores as áreas conhecidas como Faxinais, onde os tropeiros reuniam-se e se estabeleciam para cuidar e preparar suas tropas. Iperó fazia parte deste faxinal, por estar, assim como outros, geograficamente localizado perto da rota tropeira rumo à Sorocaba.

Hoje, percebemos marcas tropeiras fundamentais em nossa cultura. Ainda neste período, no século XVII, devemos lembrar quando Braz Esteves, parente de Baltazar Fernandes (fundador de Sorocaba), e também sertanista, pisou nas terras que hoje pertencem à cidade. Para marcar sua passagem, Esteves fundou a Capela de Nossa Senhora da Conceição, às margens do Rio Sarapuí.

A partir do final do século XIX, os pioneiros começam a se instalar e praticar atividades agrícolas. Por volta de 1891 e 1900, Samuel Domingues instala-se na região que hoje é conhecida como Várzea, praticamente ao mesmo tempo que Porfírio de Almeida e Rita Motta.

Gustavo Sartorelli, quase que simultaneamente, na área oposta da várzea, onde inicia provavelmente uma olaria pioneira no mesmo período. Paralelo a estes pioneiros nesta região, outro polo também dava sinais de vida: Bacaetava, onde, desde o início do século, Guazzelli administrava movimentada “venda” naquela região.

Bacaetava, por estar próxima a Fazenda Ipanema, e ao faxinal tropeiro, provavelmente tem relações no seu povoamento com estas atividades, apesar de também ter sido impulsionada pela ferrovia, no início do século XX.
O ano de 1927 marca o final da fase predominantemente agrária de Iperó, com a chegada da ferrovia, impulsionada pelo advento do café em direção ao interior paulista.

Negociando terras com Rita Motta, a Estrada de Ferro Sorocabana inicia a construção do leito ferroviário, que mais tarde se tornará um entroncamento de grande importância. Começa a nascer no entorno, Iperó que conhecemos hoje. É o outro tropeirismo trazendo a modernidade: o “tropeirismo de ferro”. Surgem as primeiras construções motivadas pelo trabalho da ferrovia.

Com a população crescendo, em 1944 o lugarejo que ficou conhecido pelo nome de Vila Santo Antonio foi elevado à categoria de Distrito da Paz de Boituva. Obrigados a mudar de nome, depois que o Governo do Estado descobriu a existência de outra Vila Santo Antonio, os moradores o rebatizaram como Esplanada.

Após discussões e polêmica, decidiram adotar o nome de Iperó, erradamente traduzido como águas profundas e revoltas. Apesar de ainda não ter sido feito nenhum estudo lingüístico especializado sobre o assunto, podemos citar o significado de um estudioso do Tupi: “Sede municipal do Estado de São Paulo; Yperoba, literalmente casca amarga; espécie de madeira usada em construções, geralmente chamada Peroba”. (TIBIRIÇÁ, Luis Caldas. Dicionário de Topônimos Brasileiros de Origem Tupi. Ed. Traço, 1985).

É mais do que óbvio a forte presença indígena em toda nossa região, bastando citar para isso, os nomes dos municípios. Iperó constituiu também, naquele passado distante citado no início deste histórico, um grande contingente indígena, provavelmente da nação Tupiniquim. Diversos materiais arqueológicos indígenas foram encontrados em nosso subsolo, atestando e apresentando os primeiros donos destas terras.

O município foi se desenvolvendo então, acompanhando a prosperidade da Estrada de Ferro Sorocabana. Surge a primeira escola, Jundiacanga, e depois outras, culminando com a construção do grande Colégio na época (1953), E. E. Dr. Gaspar Ricardo Júnior.

Casas, pequenos comércios, a Igreja de Sta. Rita e depois a da Matriz, vão dando contornos urbanos àquela que havia sido antes uma área essencialmente rural. Chega assim, adquirindo uma personalidade própria, ao ano de 1964, quando as figuras proeminentes do distrito como Jorge Abílio Nassif, Joaquim Pedroso Ramos, Gumercindo de Campos e José Homem de Góes, entre outros, lideraram uma campanha para a emancipação política/administrativa. O projeto foi votado em fevereiro do mesmo ano e aprovado por maioria. Estranhamente, porém, o Governador do Estado, Adhemar de Barros, vetou o projeto e o sonho da emancipação teve que esperar ainda um ano.

Mas, diante dos protestos da população, indignada com a decisão do Governador, as autoridades estaduais marcaram um plebiscito e o resultado foi inteiramente “sim”. A emancipação veio finalmente em 21 de março de 1965, quando Adhemar de Barros retirou o veto e o distrito foi elevado à categoria de Município. Nascia então, legalmente, a cidade de Iperó: terra de Tupiniquins, berço da Siderurgia Nacional, área de apoio ao Tropeirismo, e personagem importante crescido e fortalecido na saga da Ferrovia, até chegarmos hoje, nos aspectos industriais e tecnológicos presentes.

BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Aluísio de. História de Sorocaba. Sorocaba: IHGGS, 1969
CANATELLI, Sandro Antonio. Sociedades Indígenas de Sorocaba e Região: século XVI ao XIX. Universidade de Sorocaba, dezembro de 2000.
FERROVIAS DE SÃO PAULO. Secretaria de Estado da Cultura. Ed. Audichromo. 2004.
SALAZAR, José Monteiro. Araçoiaba e

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